Pai e filha estão no carro. O pai liga o rádio no último volume, com o intuito de curtir as "20 +" de Milionário e José Rico. A filha, por sua vez, liga mais que depressa o seu MP3, lamentando-se mentalmente pelo mal gosto do seu progenitor.
Não passa muito tempo e a filha se perde nos seus pensamentos. Do nada vem uma vontade imensa de contar "tudo" ao pai. Mentalmente arranca as pétalas de uma margarida: conto... não conto... conto... não conto. Uma a uma, as pétalas são arrancadas, até que a última indica: CONTO. Talvez o número de pétalas foi, inconscientemente, colocado de propósito para dar esse resultado, mas antes que ela resolvesse pensar sobre isso, já havia desligado seu MP3.
Quando olha para o lado, vê seu pai empolgadíssimo, cantando em alto e bom som junto com a dupla: "...não sei se a saudade fica, ou se ela vai embora..." (poesia ímpar). Num gesto rápido e certeiro, ela desliga o rádio. E depois de uma curta, porém claramente triste, reclamação do pai - "ô filha...eu táva ouvindo!..." - ela vomita essas palavras:
- Pai, tô ficando com mulheres.
Um silêncio ensurdecedor toma conta do carro e, pela primeira vez na vida, a moça estava com vontade de ouvir a dupla que cantava até então. Qualquer coisa era melhor do que aquele silêncio que durou pouco mais de vinte, longos, segundos.
- Pai?
- Espera.
- Ahn... Esperar o que?
- Espera eu processar a informação.
Antes que ela fale qualquer coisa ele pergunta:
- Só com mulheres?
- Só mulheres.
- Mas como tu sabe se gosta delas? Já transou com alguma?
- Aham. (filha vermelha, recriminando-se por ter iniciado essa conversa)
- Ah, é? E eu conheço?
Nesse momento ela pensa se deveria contar que a primeira mulher que ela havia "provado", não só era do conhecimento do seu pai, como também era uma grande amiga da família. E se dando conta das proporções que isso iria tomar, responde apenas:
- Não.
O pai não diz mais nada. Segue, pensativo, o seu caminho. A filha segue igualmente quieta, se perguntando se é possível a conversa chegar ao fim dessa maneira.
O rádio continua desligado, assim como o MP3, e os dois continuam mudos pelo resto do caminho.
Assim que chegam em casa, mal olham para a mãe/esposa que está na sala lendo, distraidamente, uma revista. Cada um vai paro o seu quarto.
A filha está prestes a ligar para seu amigo pra contar sobre a experiência estranha, quando batem em sua porta. É o pai. E ele apenas diz, ali da porta mesmo (com um sorriso estampado na face):
-Bem que eu notei que tu anda ouvindo muito a Ana Carolina ultimamente. Foi a Madona que tu comeu?
E fecha a porta.
A filha sorri e sussurra pra si mesma:
- Agora sim, terminou a conversa.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
História verídica na sua essência
Postado por Daia às 08:37
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